Retrospectiva 2005 - Onde você estava quando eu escovei os dentes?

Fim de ano, seja gregoriano, chinês, judaico ou árabe, sempre traz aquela nostalgia, aquela vontade de rever as experiências passadas, e é sempre importante tomar esta oportunidade para olhar para trás e aprender com os erros e acertos do ano que passou.
As redes de televisão sabem disso e sempre inventam um jeito de reprisar as invenções e destruições do ano, as tristezas e as alegrias, e é muito tentador deixar a TV tomar conta do nosso consciente coletivo. Eu cedi à tentação e dei uma espiada. Sempre que assisto a essas retrospectivas televisivas eu tenho a impressão, talvez proposital por parte de quem fez o programa, que em toda cena, em cada momento-ultra-importante que aparece em seu ecran, fica uma pergunta pairando no ar: Onde você estava quando isso aconteceu? Às vezes os próprios apresentadores dão voz à esta terrível inquisição. Onde você estava quando os aviões mergulharam em direção às torres? Onde você estava quando o Brasil virou Penta? Onde você estava quando Michael Jackson foi absolvido? (Does anyone really care?) É como se o tal evento fosse tão importante na vida de todos nós que seria vergonhoso ignorá-lo.

Para mim este ano foi de muitas mudanças, muitas coisas novas, novos pontos-de-vista, novas maneiras de encarar a vida. Aprendi que, muitas vezes, mais importante do que o próprio acontecimento é quem o testemunha. Aprendi que mais importante do que decidir em que caminho seguir é decidir quem você vai levar junto nesta viagem. Este ano eu decidi que não queria mais viajar só, e no fim aprendi que nunca estive só.
Então, por essas e muitas outras razões, PPTV orgulhosamente apresenta: Retrospectiva 2005.

Onde você estava quando eu decidi fazer uma surpresa para minha família e comprei uma passagem aérea de Israel para o Brasil?
Onde você estava naquele momento quando me orgulhei de ter feito isso exclusivamente com o meu dinheiro pela primeira vez?
Onde você estava quando recebi a notícia que meu avô paterno havia falecido?
Onde você estava quando, rodeado pela minha família, me senti tão amado que podia explodir?
Onde você estava quando, da maneira mais inusitada, no tempo mais inesperado, me apaixonei pela mulher que era minha namoradinha na 3ª série do primário?
Onde você estava quando tive que me despedir de todos os que eu amo e voltar para Israel?
Onde você estava quando decidi voltar definitivamente para o Brasil depois de quase oito anos no exterior?
Onde você estava quando percebi que tenho amigos em Israel que tive que deixar para trás junto com a maioria dos meus pertences? (vide o último post)
Onde você estava quando, de volta ao Brasil, reencontrei meu amor no meio da rua, debaixo da chuva?
Onde você estava quando enfentei minha primeira árvore de natal? (Happy Festivus to you too!)
Onde você estava quando sofri um acidente de carro na Avenida Brasil e, sendo o mais ferido, saí com dois arranhões?
Onde você estava quando ao chegar a meia-noite, vendo os fogos no céu, pela primeira vez em muitos anos não tive vontade de chorar?

Não é exatamente o meu ano inteiro, mas se você entendeu direito essas perguntas vai saber quem eu fui no ano de 2005.

E o meu desejo para 2006 é que tenhamos forças de cumprir as promessas que fizermos para os outros e para nós mesmos.

Como Perder 20 Quilos em Menos de 1 Hora ou A Justiça de Alláh

Para esta revolucionária dieta dar certo você deve estar preparado para perder junto com os 20 quilos mais algumas centenas de reais. Afinal, nessa receita o principal ingrediente é uma viagem transatlântica só de ida de Israel para o Brasil. Tendo explicado isso, prossiga comprando sua passagem com a Air France. Preferivelmente, seja jovem, estudante e receba um desconto no preço.

Segundo, quem já teve de viajar das Américas para o “velho continente” europeu sabe bem que as malas (no máximo duas) que se leve devem pesar no máximo 32 quilos. Ás vezes menos, 20. O importante nessa dieta é que este dado é fato. Então, neste segundo estágio, deve-se preparar duas malas, pesando no mínimo 20 quilos cada.

Terceiro estágio: chegando no aeroporto no dia da viagem, vá ao guichê da Air France com intento de fazer seu check-in e surpreenda-se imensamente ao descobrir que há pouquíssimo tempo as regras mudaram e agora o máximo que se pode levar de bagagem é, pasmem, vinte pobres quilos!!!

Quarto: Receba do representante israelense da Air France, um senhor corpulento que atende pelo nome de Avi Cohen (Quem já esteve em Israel sabe que é equivalente a ter um nome como José da Silva no Brasil) a notícia que não há erro algum na sua passagem, simplesmente houve uma mudança nas regras. De acordo com o respeitável representante, se você quiser levar seu excesso de peso no avião deve pagar uma taxa de 32 dólares americanos por quilo de excesso, o que dobraria instantaneamente o preço da aventura.

Quinto estágio da nossa dieta relâmpago e estamos quase no fim. Como você não tem dinheiro pra gastar assim à toa, implore, chore, faça cena mesmo frente ao inequívoco representante que não sabe nem se vestir direito. Dessa vez sem surpresa alguma descubra que isso não tem efeito no nosso Avi, osso duro de roer. A única solução que ele conhece seria enviar a mala pelo correio, que custaria aproximadamente o mesmo, ou deixar a mala em Israel com algum conhecido. Note-se que para a dieta funcionar você não deve dar o braço a torcer e insistir que a sua passagem é só de ida, sendo então absurda e impraticável a solução de deixar a mala com alguém.

Sexto e final estágio da nossa maravilhosa dieta: Chegada a hora de fechar o check-in, nosso querido antagonista Avi da Silva proclama um ultimato: decida-se ou perca o vôo. Tendo de decidir entre dobrar o preço da passagem sem ter dinheiro para cobrir a despesa ou deixar o excesso de peso pra trás para poder viajar, você diligentemente desfará suas malas em frente ao povo que habita no Sião, escolherá as coisas mais caras ou mais queridas e jogará o resto no lixo!

Resumo. Existe uma expressão em hebraico que se usa quando você já não sabe mais o que dizer sobre a razão das coisas ruins: Kaparáh. Quer dizer simplesmente Perdão. Ou seja, eu devo ter pecado tanto contra a divindade da vez que me foi decretado perder vinte quilos entre roupas e livros de forma totalmente inusitada, injusta e terrivelmente humilhante. Os adeptos desse ponto de vista cósmico acrescentarão a seu favor: Veja só o catador de lixo do aeroporto, um senhor imigrante da ex-União Soviética que fala meia palavra de inglês e duas em hebraico. Só pela expressão em sua face e os olhos brilhantes com que me mirava durante minha via crucis em direção a sua lata de lixo já deu pra entender que esse era seu dia de sorte. Ia ganhar uma mala Samsonite velha, mas inteira, uma porção de camisetas e camisas usadas, mas limpas, uns livros em inglês e em hebraico que ia dar para seus filhos e netos. Quem disse que Alláh não é justo? Você perde peso, Avi Cohen ganha o respeito dos seus colegas por ser impassível e a família do russo vai ter uma razão pra ficar feliz.

Quem disse que Alláh não é justo?

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Rule #2: I'll write every time in a different language, probably Portuguese, English or Hebrew.
Rule #3: I make things up often. I contradict myself often. Don't bother reminding me, just deal with it. Actually you could try to contact me and ask what really happened.
Rule #4: If you know me please don't comment here, do so personally or by a private email.

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